Clássicos do Tai Chi parte 1 – Discussão sobre a prática do Tai Chi

Vamos explorar um pouco os textos clássicos do Tai Chi, gostaria de deixar claro que esses próximos textos não são de autoria minha, mas são clássicos escritos por mestres chineses, portanto os dados expressos abaixo não são necessariamente iguais a minhas opiniões pessoais. Boa leitura a todos! Espero que aproveitem!

CAPÍTULO 1 – DISCUSSÃO SOBRE A PRÁTICA DO TAI-CHI CHUAN

Ditado por Yang Ch’en-fu. Registrado por Chang Hung-k’uei em Yang-shi T’ai-chi ch’üan (T’ai-chi ch’üan Estilo Yang ). Hong Kong: T’ai-p’ing shu-chü, 1971; Também de Yang Ch’eng-fu, Yang-chia T’ai-chi ch’üan t’i-yung ch’üan-shu ( Princípios Completos e Aplicações do T’ai-chi ch’üan da Família Yang ). Hong Kong: Hsin-wen shu-tien, n.d.

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            Embora as escolas sejam inumeráveis entre as artes marciais chinesas, são todas baseadas nos mesmos princípios filosóficos. Os antigos devotaram vidas inteiras a elas, sem serem capazes de esgotar suas maravilhas. Contudo, se os praticantes perdem um dia de esforço, eles colherão o benefício de um só dia. Depois de vários dias e meses, o objetivo poderá ser naturalmente atingido. Esta arte não é como os eventos de pista e arena do Ocidente, os quais são facilmente explicados e demonstrados e não requerem nenhum estudo profundo ou sutil.

            T’ai-chi ch’üan é a arte de conciliar a dureza com a suavidade, como uma agulha no algodão. Sua técnica, fisiologia e mecânica, todas implicam em consideráveis princípios filosóficos. Portanto, os estudantes desta arte devem passar através de estágios definidos de desenvolvimento, através de um longo período de tempo. Ainda que a orientação de um instrutor superior e a prática com colegas sejam indispensáveis, a coisa mais importante é o treino individual diário. Pode-se discorrer ou sonhar muito, mas um dia, quando formos chamados a testar nossa arte, não teremos nada para mostrar, pois, sem a disciplina diária, permaneceremos sempre alheios à arte. Por esta razão disseram os antigos: “somente pensar é sem proveito; é muito melhor praticar”. Se praticarmos fielmente manhã e noite, verão e inverno, mantendo a forma sempre renovada, aí então, independentemente de idade ou sexo, o sucesso é assegurado.

            Nos anos recentes, estudantes de T’ai-chi ch’üan viajaram do norte para o sul da China, do vale do rio Amarelo ao vale do rio Yangtze, e do Yangtze para o rio Pérola, em Kwangtung. Isto promoveu um aumento do número de entusiastas, o que é motivo para grande otimismo em relação ao futuro de nossas artes marciais nacionais. Nos próximos anos, não haverá limites para o número de estudantes sinceros e dedicados. Ainda que não haja escassez de alunos, a maioria cai em um dos dois procedimentos errôneos. O primeiro grupo é altamente bem-dotado, robusto, de pensamento excepcionalmente rápido e penetrante, mas, infortunadamente, fica satisfeito com pequenos sucessos. Rapidamente dominando o superficial, abandonam seus treinos, sem poder aprender muito. O segundo grupo consiste daqueles que são ansiosos por resultados imediatos e descuidados com detalhes. Antes que um ano se passe, terminam seu aprendizado das formas de mão, espada, facão ( sabre ) e lança. Eles são capazes de imitar os aspectos exteriores da forma, mas, na realidade, ignoram os aspectos interiores. Quando examinamos suas direções e movimentos, o subir e o descer, o dentro e o fora, descobrimos que eles todos não alcançam a medida própria. Se tentamos fazer correções, constatamos que cada simples postura requer correção e, mais ainda, que os acertos da manhã já são esquecidos pela noite. É por isso que frequentemente se diz que “as artes marciais são fáceis de aprender, mas difíceis de corrigir”. A origem deste ditado reside no desejo de resultados imediatos. Atualmente, erros são passados como ensinamentos. Isso leva a uma auto-desilusão e é causa de grande preocupação para o futuro de nossa arte.

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            No começo do aprendizado do T’ai-chi ch’üan, deve-se treinar primeiramente a forma. Treinar a forma significa a cuidadosa memorização e imitação de cada postura da seqüência, sob orientação de um instrutor. Os alunos devem acalmar seu ch’i, memorizar tranquilamente, ponderar e imitar as posturas: isto é o que se chama praticar a forma. Neste ponto, devem prestar especial atenção em distinguir entre o interno e o externo, entre subir e baixar. Aquilo que pertence ao interno é “usar a mente, e não a força”. Baixar quer dizer “conduzir o ch’i para o tan tien”, e subir refere-se à “energia leve e sensitiva no topo da cabeça”. O externo é a “leveza e sensibilidade por todo o corpo”, “a conexão desimpedida de todas as articulações”, “dos pés para as pernas, e destas para a cintura”, “baixar os ombros e dobrar os cotovelos”, e assim por diante. No início do estudo, estes ensinamentos devem ser meticulosamente entendidos e praticados dia e noite. Cada postura e movimento devem ser cuidadosamente analisados. Dedique-se a adquirir correção durante a prática. Quando dominar uma postura, vá para a próxima. Dessa maneira, obter-se-á toda a forma. Se as correções são feitas passo a passo, não haverá mudanças em princípios básicos, mesmo depois de longo período de tempo.

            Ao praticar os movimentos, todas as juntas devem estar relaxadas. Em primeiro lugar, não se deve prender a respiração. Segundo, os quatro membros e cintura não devem usar força alguma. Estes dois princípios são recitados por todos os artistas marciais de sistemas internos. No entanto, tão logo os alunos começam a andar, virando o corpo, chutando ou rodando a cintura, perdem o controle da respiração e seus corpos oscilam. As causas são, invariavelmente, prender a respiração e usar a força.

            1- A cabeça não deve inclinar, seja para frente, para trás ou para os lados. Isso é o que queremos dizer com “pendurar a cabeça como se ela fosse suspensa pelo alto, por um fio”, ou a idéia de equilibrar um objeto no alto da cabeça. Enfatizamos o conceito da suspensão a partir de cima com o objetivo de evitar uma postura vertical rígida. Ainda que a visão seja dirigida para a frente, às vezes ela acompanha a movimentação do corpo. Apesar de desfocada, ela é, sem dúvida, um importante movimento dentre o conjunto de mudanças, e suplementa deficiências nas técnicas do corpo e das mãos. A boca parece aberta, mas não está aberta; ela parece fechada, mas não está fechada. Inspire pelo nariz e expire pela boca, de um modo natural[1]. Se fluir saliva abaixo da língua, ela deve ser engolida, e não expelida.

            2- O corpo deverá manter uma postura ereta, sem inclinação; a coluna e o cóccix devem ser mantidos em alinhamento vertical, sem sair do eixo. Iniciantes devem dedicar especial atenção a isto, conforme vão executando movimentos ativos envolvendo recepção e emissão, relaxamento do tórax e expansão das costas, baixar os ombros e girar a cintura. Caso contrário, tornar-se-ão tensos e, depois de um tempo, será difícil corrigi-los; mesmo dedicando muito tempo, haverá pouco benefício ou vantagem prática.

            3- Todas as articulações dos braços devem estar completamente relaxadas, com os ombros abaixados e os cotovelos dobrados para baixo. A palma da mão deve ser suavemente estendida, e os dedos levemente curvados. Use a mente para mover os braços e permitir que o ch’i atinja a ponta dos dedos. Depois de vários dias e meses, a energia interna tornar-se-á extremamente sensitiva e maravilhas serão naturalmente manifestas.

            4- Deve-se distinguir claramente o cheio e o vazio nas duas pernas. Ao ascender e abaixar, deve-se mover como um gato. Se o peso do corpo é apoiado na perna esquerda, então ela é cheia e a direita é vazia. Se o peso vai para a direita, então a perna direita é cheia e a esquerda vazia. Não queremos dizer que o vazio seja um vácuo, pois não há interrupção no potencial energético e a idéia de extensão e contração permanece. “Cheio” significa simplesmente que o apoio é substancial, e não que força excessiva é empregada, o que seria considerado força bruta. Ainda mais, ao flexionar as pernas, a perna dianteira não deve ir além da vertical; excedê-lo é também considerado excesso de energia. Quando, ao empurrar alguém, perdemos nossa postura vertical, nosso oponente tirará vantagem disto para contra-atacar-nos.

            5- No que se refere aos pés, é necessário distinguir entre chutar com o bico do pé (como em Separar os Pés à Direita e à Esquerda e Estender os Pés à Direita e à Esquerda) ou com o calcanhar. Ao chutar com o bico, a atenção deve se voltar para os dedos do pé; com o calcanhar, dirija a atenção para a sola do pé. Aonde vai a mente, vai o ch’i, e aonde vai o ch’i, haverá naturalmente energia. No entanto, as articulações da perna devem estar completamente relaxadas, e o chute deve ser desferido com uniformidade e estabilidade. Nesta hora é fácil pecar por uso de força rígida fazendo o corpo balançar, perdendo a estabilidade e a potência do chute.

11210181-tai-ji-or-tai-chi-chinese-characters-in-calligraphy-it-is-a-taoism-philosophy-term--Stock-Vector            O currículo do T’ai-chi ch’üan consiste, primeiramente, em forma de mão (i. e., mão vazia), que é o T’ai-chi ch’üan propriamente dito, e a forma longa. Depois vem o Tui Shou de uma mão, Tui Shou fixo, Tui Shou com passos, Ta Lü e San Shou (treinos a dois). Por último, temos as armas: espada de dois gumes, facão (sabre) e lança (forma de treze seqüências).

            Quanto à duração da prática, recomenda-se praticar duas formas pela manhã, ao levantar, e mais duas antes de ir para a cama. Deve-se praticar sete ou oito vezes por dia; em último caso, uma pela manhã e outra à noite. Porém, evite praticar depois das refeições e quando tomar bebidas alcoólicas.

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Quanto ao lugar da prática, pátios, quintais ou salas vazias onde haja luz e ar fresco su

ficiente são os mais adequados. Evite ventos fortes e lugares escuros, úmidos e de mau cheiro. Isto porque, quando começamos os movimentos, nossa respiração se torna mais pr

ofunda. Se o vento forte ou o ar ruim penetrar no corpo, isto será injurioso para os pulmões e poderá facilmente nos levar à doença. Já as roupas, devem ter um talhe que permita os movimentos sem embaraço (largas), e os sapatos de tecido (sapatilhas) são os melhores, pois deixam os dedos do pé livres. Quando suar depois da prática, evite tirar as roupas, nudez e contato com água fria. Caso contrário, a doença é inevitável.

[1]Assunto muito polêmico. A tradução foi feita de maneira fiel ao texto inglês.

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